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foto Lindembergue Cardoso
Lindembergue Cardoso (Livramento de Nsa. Sra. - BA, 30/06/1939 - 23/05/1989)


LINDEMBERGUE ROCHA CARDOSO (Livramento de Nossa Senhora, BA 30/6/1939 - Salvador, 23/5/1989) foi compositor, regente e educador. Sua carreira profissional foi integralmente desenvolvida na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde também realizou a formação acadêmica em Composição e Regência, tendo-se graduado em 1974, sob a orientação de Ernst Widmer.

Lembrando Lindembergue como aluno, Widmer assim expressou-se em carta à viúva do compositor, datada de 25.5.89:

[...] Foi o meu aluno (em todos esses anos) mais susceptível, verdadeiro sismógrafo. A qualquer observação (veja bem, isso foi lá em 64/65) da minha parte reagia instantaneamente [...]. Beg logo procurava outra solução, descartava depressa o que não lhe satisfazia e se mostrou compositor nato, inato, desde logo: é que ao criar, o compositor deve rejeitar o tempo todo, decidir e escolher por razões não sempre tangíveis mas que concernem ao todo, inclusive à mente coletiva, NÓS. Daí o impacto junto ao público, o sucesso: nunca malhava em ferro frio, sempre fazia soar e vibrar os corações.

Como professor da graduação em música da UFBA, lecionou Folclore, Canto Coral, Composição, Instrumentação, Literatura e Estruturação Musical, e Percepção. Reconhecido como um mestre da criatividade, teve "cadeira cativa" em importantes cursos e festivais sazonais do país, como o Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais (no qual atuou assiduamente entre 1972 e 1982) e o Curso Internacional de Verão de Brasília (onde lecionou anualmente, no período de 1976 a 1980). Ao falecer, era Vice-Diretor da Escola de Música da UFBA, cargo que assumira em 29/11/1988.

Foi membro fundador do Grupo de Compositores da Bahia (1966), e da Sociedade Brasileira de Música Contemporânea (1972), da qual foi Secretário Geral no período de 1974 a 1982. Em 13/10/1988 foi empossado como Membro Efetivo da Academia Brasileira de Música, onde ocupou a cadeira nº 33.

Durante 22 anos de intensa atividade composicional (1966 - 1988), Lindembergue Cardoso deixou uma obra vasta[1], abrangendo distintos gêneros (de concerto, popular, música religiosa, ópera e música incidental) e vários meios instrumentais: coro a cappella, voz solista e instrumentos, coro e instrumentos, instrumento solo, conjuntos de câmera de várias formações, banda, banda e coro, orquestra de câmera, orquestra sinfônica, orquestra e vozes. Ao todo, 13 obras suas são detentoras de prêmios no Brasil, 4 das quais se encaixam na categoria de "primeiro prêmio": Via Sacra (1º Prêmio na II Apresentação de Jovens Compositores da Bahia, 1968), Kyrie-Christe (1º Prêmio do Concurso de Composição dos Institutos Goethe do Brasil, 1971) Relatividade I, op. 69 (1º Prêmio do Concurso Nacional de Composição Conjunto Música Nova da UFBA, 1981) e 9 Variações para fagote e orquestra de cordas (1º Prêmio do Concurso Nacional de Composição Conjunto Música Nova da UFBA, 1985). O "impacto junto ao público" ao qual Widmer se refere, reflete-se em várias obras premiadas pelo público em concursos nacionais: Via Sacra (II Apresentação de Jovens Compositores da Bahia,1968), Procissão das Carpideiras (I Festival de Música da Guanabara, 1969), Os atabaques de Pombagira (Concurso Nacional de Composições e Arranjos Corais sobre Temas Folclóricos Brasileiros, BH/MG, 1974), Suitemdó (Concurso Latino Americano de Composição, Salvador, 1979), e 9 Variações para fagote e orquestra de cordas (Concurso Nacional de Composição Conjunto Música Nova, 1985).

Lindembergue também foi autor de vários arranjos de música folclórica e popular, muitos deles para coro[2]. A naturalidade com que transitou no gênero popular, criando frevos, dobrados, boleros e sambas para banda, coro e outros conjuntos instrumentais, "certifica" sua origem musical no gênero popular.

Muitos foram os reconhecimentos de amizade e valor recebidos em vida pelo compositor: músicas, poesias, concertos, medalhas de honra, troféus. Em 1987, ele recebeu a Medalha do Mérito Castro Alves da Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Bahia, como reconhecimento do valor de sua obra musical. A última das homenagens recebidas em vida foi o Troféu Caymmi (1989), concedido a ele "por sua obra sempre atual e de estatura internacional".

Reconhecida internacionalmente, a música de Lindembergue Cardoso representou o Brasil em importantes eventos internacionais, como as VI e VII Bienais de Paris (1969 e 1971), o Festival International du Son (Paris, 1971), a Tribuna Internacional de Música da UNESCO (Paris, 1971), o Festival de Graz (1974) e o World Pupperty Festival (Washington, 1980).

Dos aspectos estéticos que marcam e distinguem a obra de Lindembergue Cardoso pode-se citar: 1) excessivo uso de temas nordestinos e de referências musicais às tradições folclóricas nordestinas e populares baianas; 2) forte tendência à temática religiosa; 3) tendência ao "paisagismo musical"; e 4) exploração timbrística, notada não somente na orquestração, como na exploração sonora de cada instrumento. Nesse último item, destaca-se a exuberância do naipe da percussão, assim como a experimentação com timbres vocais e concretos (principalmente os derivados de sucata). A soma de todos esses aspectos aponta para um acentuado caráter regionalista, como uma das características essenciais de sua música. O regionalismo de Lindembergue Cardoso, entretanto, que não se molda nos padrões da estética regionalista tradicional, mas caracteriza-se pela adaptação de traços regionais (textura de paralelismos, inflexões modais, padrões rítmicos derivados das tradições populares, harmonias de sétimas, ...) a aspectos da linguagem contemporânea (clusters cromáticos, texturas complexas realizadas por meio de indeterminação, ritmo não métrico, solução da continuidade, etc.), resultando numa estética de aglutinação e contrastes, viva de cores e farta de simbologia. Na missa com que homenageou o Papa por ocasião de sua visita à Bahia em 1980 (Missa João Paulo II), para atabaques, agogô, órgão, coro e vozes solistas (soprano e contralto), pode-se detectar os aspectos essenciais da sua obra musical: a intenção de representar o seu povo e de comunicar-se com ele, e o desejo de comunicar-se com Deus e de sensibilizar os homens à paz e harmonia através da música.

São vários os reconhecimentos póstumos ao mérito da obra de Lindembergue Cardoso. No ano de 1989, o Troféu Catavento de Prata, concedido pela Gazeta do Turismo da Bahia, dedicou a ele as comemorações dos 10 anos do evento. Em 1990, a Associação Paulista de Críticos de Arte concedeu-lhe o Troféu APCA, pela sua obra 9 Variações para fagote e orquestra de cordas. Em 23 de maio de 1997 (oitavo aniversário de sua morte), a Universidade Federal da Bahia lhe concedeu o título de "Professor Emérito Post Mortem". Recentemente o compositor foi feito patrono de uma das duas cadeiras de música da Academia de Letras e Artes de Salvador (ALAS).

O "Memorial Lindembergue Cardoso", criado em dezembro de 1991, é uma justa homenagem póstuma da UFBA ao professor e compositor. Nesse espaço, encontra-se uma farta documentação sobre a vida e obra do compositor, em vários tipos de documentos: artigos de jornais e revistas, cartazes, gravações em áudio e vídeo, fotografias, partituras, os instrumentos do compositor, suas condecorações e algumas de suas criações em artes plásticas.

Em 1998, a Secretaria de Educação do Estado da Bahia publicou "Lindembergue Cardoso - Pesquisa Escolar", um volume abrangente de 255 páginas fartamente ilustradas, que se configura como um outro tipo de memorial do compositor. Esse volume divide-se em duas partes. Na primeira encontra-se a produção resultante de uma pesquisa sobre o personagem Lindembergue Cardoso, realizada por alunos de escolas públicas do Estado da Bahia (poesias e textos, adaptações musicais quadrinhos, desenhos, pinturas e outras formas de expressão). Em todas as produções, evidencia-se aquela qualidade carismática apontada por Widmer: "sempre fazia soar e vibrar os corações", mesmo os dos que não tiveram o privilégio de conhecê-lo em vida. Da segunda parte ("Guia de Fontes"), constam o currículo do compositor e sua lista de obras, a partir da qual foi elaborada a relação cronológica que aqui incluimos.


[1] Sua produção classificada chegou ao opus 110. No entanto, esse número excede em muito incluindo-se os trabalhos não classificados: arranjos, orquestrações, composições no gênero popular, trilhas para cinema, música para espetáculos de dança, teatro de bonecos e eventos religiosos.

[2] Os primeiros arranjos foram estimulados pela participação do compositor como coralista do Madrigal da UFBA (1962-1971). Posteriormente, sendo criador e regente de vários coros amadores, ele se preocupou em desenvolver um repertório compatível à finalidade social desses corais, que pudessem assimilar com rapidez e satisfação.



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