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foto Ernst Widmer
Ernst Widmer (Aarau - Suíça, 25/4/1927 - 3/1/1990)


O COMPOSITOR:

  •       Apresentação
  •       Formação Acadêmica
  •       Atividade Profissional
  • A OBRA:

  •       Algumas Considerações Estilísticas
  •       Produção Crítica, Teórica e Didática
  • Ilza Nogueira


    O COMPOSITOR

    APRESENTAÇÃO
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    ERNST WIDMER foi compositor, regente, pianista e pedagogo. Em 1956 veio para o Brasil a convite de H. J. Koellreutter, para ensinar nos Seminários Livres de Música da Universidade Federal da Bahia, uma escola criada em 1954 pelo reitor Edgard Santos. Entusiasmado com a "extraordinária potencialidade dos brasileiros" e com a flexibilidade do programa de ensino musical que se propunha na UFBA, Widmer radicou-se definitivamente na Bahia, onde, segundo depoimento seu, pôde desenvolver em pouco tempo um trabalho mais intensivo e mais volumoso do que ter-lhe-ia sido possível na Suíça.

    Na Escola de Música da UFBA, Widmer foi um "pedagogo polivalente": lecionou piano, canto-coral, percepção musical, teoria elementar, harmonia, contraponto, análise, fuga, educação musical, composição, improvisação, instrumentação, orquestração e regência. Como professor de composição, ele sempre incentivou e propiciou a busca da linguagem individual, através de uma metodologia de ensino fundamentada no respeito a dois princípios, cuja consciência ele considerava essencial ao ato criador: organicidade e relativização.

    A abertura a todo e qualquer tipo de pensamento criativo e a rebeldia frente aos princípios estabelecidos, foram os trilhos da conduta pedagógica e composicional de Widmer [1]. Sua influência no Grupo de Compositores da Bahia, do qual foi membro fundador, encontra-se latente na declaração de princípios do Grupo, publicada no primeiro número dos seus Boletins (1966): "estamos contra todo e qualquer princípio declarado".

    Brasileiro por opção pessoal [2], Widmer foi um dos construtores da música brasileira contemporânea, à frente dos festivais e cursos de música nova, apresentações de jovens compositores e concursos de composição, que marcaram a cultura e a educação musical da Bahia e do Brasil no século XX.

    Dois anos após ter-se aposentado de uma carreira docente bem sucedida integralmente dedicada à Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (UFBA), iniciando uma nova etapa de vida, na qual pretendia dedicar-se exaustivamente à composição, Widmer faleceu prematuramente. Deixou um legado de aproximadamente 300 obras musicais, dentre composições, arranjos, adaptações e orquestrações, assim como uma produção literária sobre música (teórica, pedagógica e cultural) reduzida, porém original.


    [1] A pedagogia de Widmer foi objeto de uma extensa investigação analítica, realizada pelo compositor Paulo Lima para sua tese de doutoramento em Educação (Ernst Widmer e o ensino de composição na Bahia, Salvador: FAZCULTURA / COPENE, 1999). Quanto ao perfil composicional, este foi fruto de estudos analíticos por mim realizados e publicados sob o título Ernst Widmer: Perfil Estilístico (Salvador: EM/UFBA, 1997, 198 p.), do qual deriva-se o presente texto.

    [2] "Após 29 anos de Europa e 29 anos de Brasil, caminhando para o desempate, considero-me brasileiro". Assim Ernst Widmer inicia seu artigo Travos e Favos (ART Revista da Escola de Música e Artes Cênicas da UFBA, Salvador, n. 13, p. 63-71, abr. 1985). Esta declaração ratifica sua opção pela cidadania brasileira, adquirida em 1967.


    FORMAÇÃO ACADÊMICA
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    A formação musical de Widmer - em instrumento (piano), composição e licenciatura em teoria da música - foi realizada no Conservatório de Zurique, no período de 1947 a 1950. Lá estudou composição com Willy Burkhard e piano com Walter Frey. Nesse período, a obra recente de Bartók exerceu uma forte impressão no jovem Widmer, desde que assistiu à estréia de Música para Cordas Percussão e Celesta em Basel (1943) e ouviu a uma audição do Concerto para Orquestra em Zurique (1946). A admiração por Bartók é explícita em Hommages a Frank Martin, Bela Bartók et Igor Strawinsky, op. 18 (1959, cuja partitura autógrafa traz a dedicatória "a meus ídolos de juventude". Seis anos mais tarde, a influência de Bartók se materializa nos Ludos Brasiliensis: 162 peças progressivas para piano, op. 37 (1965-66), obra modelada nos Mikrokosmos. Pode-se mesmo dizer, portanto, que após a conclusão da formação acadêmica, num âmbito informal, o estudo da obra de Bartók representou uma continuidade na formação composicional de Widmer.


    ATIVIDADE PROFISSIONAL
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    Durante todo o tempo em que lecionou, Widmer sempre esteve à frente de cargos administrativos. Foi Diretor da escola de Música da UFBA em três períodos não consecutivos (1963-65, 1967-69 e 1976-80), foi Membro do Conselho Universitário (1979), representante da Escola de Música no Conselho de Coordenação da UFBA, Coordenador Central de extensão (1980-84) e Presidente da Comissão Permanente de Pessoal Docente (1981).

    Sua carreira profissional também foi marcada por uma intensa atividade de produção cultural, sempre dirigida à realização de eventos de música contemporânea: os Festivais de Música Nova da Bahia (1969-73) e os Festivais de Arte*Bahia (1974-82). Idealizados principalmente em função do estímulo à criação, esses eventos podem ser considerados como estratégias pedagógicas. Como ele dizia, "oportunidades, que nem armadilhas, precisam ser empregadas ao longo do caminho da aprendizagem". O objetivo, portanto, era enfatizar a apresentação de propostas inéditas, em vez dos repertórios de valores consagrados.

    Widmer se aposentou em 1987. A partir de então, passou a dividir residência entre Salvador e Belo Horizonte, enquanto escrevia sua Ópera da liberdade, op. 172, sobre o episódio da Inconfidência Mineira (libreto de Myriam Fraga), apoiado pela Sociedade Vitae (Bolsa de Artes).

    Em 1988, o valor de sua obra artística e pedagógica, nacionalmente reconhecido, conduziu-o à cadeira nº 31 da Academia Brasileira de Música, cujo patrono foi o musicólogo baiano Guilherme de Mello.

    Depois da sua aposentadoria, os laços com a terra natal se estreitaram, e uma prova dessa re-aproximação foi o concerto comemorativo do seu 60º aniversário, organizado pela administração do Cantão de Aarau e realizado em 27 de junho de 1987, em sua cidade natal. No ano seguinte, fundava-se em Aarau a Sociedade Ernst Widmer (Ernst Widmer Gesellschaft - http://www.ernstwidmer.ch/) com o objetivo de fomentar e promover sua obra na Suíça e no estrangeiro. Por desejo do compositor, essa sociedade mantém seus manuscritos autógrafos e detém seus direitos autorais.


    A OBRA

    ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ESTILÍSTICAS
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    A carreira composicional de Widmer foi desenvolvida no período de 1947 a 1989. Nesses 42 anos de intenso trabalho artístico, sua produção classificada chegou ao opus 173. Vasta e variada, sua obra abrange distintos gêneros musicais (peças didáticas, religiosas, de concerto, ópera, balé, música para filme e teatro instrumental), e uma enorme diversidade de forças instrumentais, com ênfase nas formações de câmera tradicionais e originais. Ao todo, 24 obras suas são detentoras de prêmios no Brasil e no exterior, 8 das quais se encaixam na categoria de "primeiro prêmio".

    A mudança definitiva para o Brasil, com apenas 9 anos de atividade criativa desenvolvida em sua terra natal, significou um marco decisivo na evolução estilística do compositor. Pode-se dizer, portanto, que o desenvolvimento e a maturidade estilística de Widmer ocorreram no Brasil. Aos 60 anos de idade, refletindo sobre o que teria mudado em sua música na passagem geográfica da Suíça para o Brasil, ele disse:

    Noto que minha linguagem não mudou muito. Ela apenas está muito mais impregnada com uma presença rítmica e melódica nordestina; fui praticamente cativado por isso. A minha linguagem mudou pelo convívio. [...] Eu virei um compositor nordestino, no âmago da coisa [3].

    Referências às tradições musicais da etnia brasileira são tão constantes em toda a fase de desenvolvimento e maturidade estilística, que não se pode deixar de admitir uma forte tendência regionalista como uma das características essenciais de sua música. Se, em 1967, Widmer adquiriu oficialmente a cidadania Brasileira, a aquisição de uma brasilidade espontânea já teve início desde 1958 (dois anos após sua chegada ao Brasil), quando escreveu Bahia-Concerto, op. 17. Daí em diante, aspectos das tradições musicais brasileiras estiveram sempre presentes em sua produção, associadas a referências de distintas procedências: obras de outros compositores (Dufay, Pierre de la Rue, Palestrina, J. S. Bach, Bartók, W. Burkhard, etc.), folclore de distintos países (Bolívia, Colômbia, Chile, Albânia, Bulgária, Iugoslávia, Rússia, China, ...), modelos estruturais tradicionais, novas concepções filosófico-estéticas das vanguardas européia e americana. Essa miscigenação estética concede à obra de Widmer um caráter cosmopolita, universal, um estilo eclético, cuja origem pode ser encontrada na divisão emocional entre as duas realidades de sua existência: o berço suíço e a pátria adotada, a Bahia, com sua cultura eclética, negra, branca e de influência indígena.


    [3] Texto extraído da entrevista concedida a Marcus Gusmão, gravada e parcialmente publicada no programa do concerto comemorativo do sexagenário de Widmer (OSBA, 26/5/87).


    PRODUÇÃO CRITICA, TEÓRICA E DIDÁTICA
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    1. Artigos:

    Música erudita, um problema de divulgação. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22 fev. 1969. Caderno B, p. 4.

    Você sabia? Jornal da Bahia, Salvador, 7-8 jun. 1970. Suplemento A.

    O Ensino da Música nos Conservatórios. Universitas Revista da UFBA, Salvador, v. 8, p. 175-185, 1971.

    Tentativa de refletir e denunciar sobre 12 maneiras equivocadas de encarar-se arte... ART Revista da Escola de Música e Artes Cênicas da UFBA, Salvador, n. 1, p. 3-9, abr./jun. 1981.

    Tema e Variações. Jornal da Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1983, n. 12.

    Anton Walter Smetak. ART Revista da Escola de Música e Artes Cênicas da UFBA, Salvador, n. 10, p. 5-7, abr. 1984.

    Cláusulas e Cadências. ART Revista da Escola de Música e Artes Cênicas da UFBA, Salvador, n. 11, p. 5-44, ago. 1984.

    Travos e Favos. ART Revista da Escola de Música e Artes Cênicas da UFBA, Salvador, n. 13, p. 63-71, abr. 1985.

    A formação dos compositores contemporâneos... contemporâneos... contemporâneos... 1988, 5 p. (Original datilografado).

    Identidade da Música Brasileira. 1988, 1 p. (Original datilografado).

    2. Comunicações em congressos e eventos similares:

    Grafia e Prática Sonora. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE A PROBLEMÁTICA DA ATUAL GRAFIA MUSICAL (1. : 1972 : Roma). Anais do... Roma: Instituto Ítalo Latino Americano, 1972. p. 135-163.

    Crítica e Criatividade em 6 Movimentos. Salvador, 1981. (Original datilografado, apresentado na mesa-redonda sobre "Crítica e Criatividade" da XXXIII Reunião Anual da SBPC, em 1981).

    Saudação a Caymmi. In: VEIGA, Manuel, OLIVEIRA, Waldir Freitas de (Eds.). A Música que Nasce do Povo: homenagem a Caymmi. Salvador: Centro editorial e didático da UFBA, 1994, p. 13-19. (Proferida por ocasião da concessão do título de Doutor Honoris Causa a Dorival Caymmi pela UFBA, em 7. 12.1984).

    3. Monografias:

    Problemas da Difusão Cultural. Cadernos de Difusão Cultural da UFBA, Salvador, n. 5, 1979.

    Paradoxon versus Paradigma: Marginálias da Música Ocidental do Último Milênio III - Falsas relações (1). Salvador: Centro Editorial e Didático do UFBA, 1988, 89 p.

    4. Teses:

    Bordão e Bordadura. ART Revista da Escola de Música e Artes Cênicas da UFBA, Salvador, n. 4, p. 9-46, jan./mar. 1982 (concurso ao cargo de Professor Assistente da EMAC/UFBA, realizado em 1970.

    ENTROncamentos SONoros: ensaio a uma didática da música contemporânea. Salvador, 1972, 11 p. (Concurso ao cargo de Professor Titular), EMAC, UFBA.

    5. Trabalhos didáticos

    Solfejos. 2 vols. realizados em co-autoria com Sonia Born. Salvador, 1954.

    ENTROncamentos SONoros. Eventos didáticos multimídia, visando à apresentação da linguagem musical contemporânea e à introdução de conceitos musicais para o grande público, a partir de obras do Grupo de Compositores da Bahia. Salvador, 1973. A concepção dos eventos e os textos didáticos para as apresentações de "Iterações" de Jamary Oliveira e "Extrême" de Lindembergue Cardoso são de autoria de Widmer.

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